E já passou. Foram meses de
ansiedade e de espera e depois, acontece tudo num suspiro.
Estou esgotado, é verdade, mas o
coração bombeia e vive de emoções inqualificáveis e sentimentos indescritíveis,
após a honra que me deram de ter passado estes últimos dias convosco.
Se na terça-feira ansiava a chegada de
sábado, devido às primeiras dificuldades e sentir a energia diminuir a passos
largos, com alguns problemas que é possível acontecer, hoje dava tudo para ter
conseguido ter, mais um dia que fosse, convosco.
Na vida temos a possibilidade de
trilhar caminhos, fazer escolhas e optar pelo que nos faz bem. Mas também temos
a sorte, de alguns caminhos se cruzarem no nosso e a felicidade surgir pelas
mãos de quem não conhecemos.
Não sei como acabei aqui, não
como cada um de vós foi escolhido, cada critério e opção. Mas sei, com toda a
certeza que não poderia ter sido melhor. Do nada surgem amizades, do
desconhecido surgem laços que nos trazem sorrisos impagáveis e nos mostram as
lágrimas, são o preço do vosso e nosso valor.
Vi as vossas caras renitentes,
com muitas dúvidas e anseios perante uma viagem com uns quantos (muitos
desconhecidos), apenas com a certeza de querer ir pelo local onde sabiam que
iriam estar. Hoje, apenas 4 dias depois, vi alguns em lágrimas, com desejo de
voltar atrás no tempo ou, pelo menos, prolongar o sonho que foi nos termos
todos cruzado algum dia no mesmo "caminho".
Onde fomos, conhecemos a magia de
um local especial, do qual já falarei e onde qualquer um pode conhecer desde
que pise aquele chão mas, meninos, percebam que a verdadeira magia, está no
coração de quem a sente. Aquela que lá vi é única mas aquela que trouxe comigo
e que penso e espero que tenham trazido convosco, guardada no vosso coração, é
eterna.
Se estava com receio por pensar
que, não se conhecendo, poderiam não resultar enquanto grupo, pois bem que aleatoriamente
e sem haver contactos prévios, se criou um grupo compatível, onde aqueles que
mais precisavam foram apoiados pelos restantes e aqueles que foram viver o
sonho, não o quiseram viver sozinhos. Houve respeito, houve horas de diversão,
houve quebra de regras e houve horas mal dormidas. Mas existiu acima de tudo,
qualidade de vida! Se no dia-a-dia devemos seguir regras, comer bem, cumprir
horários, ir a escola ou ao trabalho pois então que me permitam que vos diga,
há semanas que temos o direito de quebrar tudo isso! E nesta semana criámos regras sim, mas alternativas!
E fomos felizes, com elas, num mundo também ele, alternativo!
Esse mundo que vos falo é
fisicamente partilhado por milhares de pessoas por dia, contudo vivido de forma única e particular por cada um de
nós. Na Disneyland Paris, vives da forma que queres. Passas cada porta ou
portão, pisas cada pedaço de chão e tornas-te naquilo que mais queres ser.
Podes ser quem tu quiseres! E tenhas tu a idade que tenhas, em ti vive aquilo que
és e muito importante, aquilo que foste. E disso
eu não me envergonho de dizer que fui e sou muito feliz. Vejo desenhos animados
regularmente e cresci a ver muitos dos que lá encontrei. Se fui por vocês
meninos, acreditem que não estive menos atento e menos focado em, com vocês,
cumprir aquele que também sempre foi um sonho meu.
Com alguns de vocês cantei as músicas que conhecia e com vocês senti
o coração apertado ao ver e ouvir aqueles com que sempre sonhei, num mundo físico
onde, na minha cabeça tudo era apenas imaginação. Fui por vocês, de coração,
mas venho paralelamente com o meu sonho cumprido.
E nesse mundo mágico andámos
muito, mas muito mesmo. Pernas de 50, 70, 80 ou 100cm andaram a mesma distância
e após cada passo, cada queixa de cansaço, eram atenuadas com alguma palavra de
consolo ou apenas após o oferecimento de ajuda por parte de alguém capaz de
aguentar um pouco mais. Feita de cadeira-de-rodas, a pé ou ao colo, todos
cumpriram metas e disfrutámos em pleno deste lugar.
Ainda vos ouço rir com algumas
parvoíces ditas ou assistidas, vos vejo chorar com algumas personagens
assustadoras ou aventuras que não quiseram fazer, vos vejo dormir em plena mesa
de refeição ou simplesmente num banco de avião ou correr que nem loucos entre
quartos, em baixo de camas ou a desfilar nos corredores. Neste pequeno pedaço
de tempo, resumindo vivemos todos juntos, em quartos separados mas em família.
Dependemos uns dos outros mas será sempre assim na vida "meus miúdos". Essa é uma
lição que vos passo e que, dado o vosso passado em comum, de doença oncológica ou
outra igualmente complicada: nós dependemos sempre uns dos outros, ninguém é
totalmente feliz sozinho.
Esta é a minha convicção.
A prova disso é que poderia ter ido
à Disneyland Paris sozinho, cumprido e vivido o meu sonho mas nunca teria tido
o mesmo valor. E hoje percebi isso quando, em lágrimas, me vi obrigado a
despedir de vocês.
Cada um de nós está agora onde
deve estar, com a família, com amigos, na vida que tem guardada para viver, mas
lembrem-se sempre do quanto fomos felizes neste pequeno pedaço de tempo. Se a
vida outrora vos fez sofrer, também vos permitiu viver uma grandiosa aventura
nesta semana que passou.
Nem tudo foi perfeito e cabe-nos
a nós melhorar com o tempo e com os erros, de forma a que de futuro, quem poder
viver sonhos desta forma, possa ir limando as arestas necessárias.
Mas pronto meninos, esta aventura
acabou e ainda havemos de nos rir e chorar a pensar em cada momento e atividade
que vivemos juntos. Anseio pelo reencontro e por ir sabendo noticias vossas.
Não me irei prolongar nem falar
de cada um de vós porque fui fazendo isso ao longo da semana, (não sei se se
foram apercebendo). Pensei escrever uma carta individual a cada um mas o tempo
não estava a meu favor. Por essa razão escrevi ao grupo e, caso seja possível, fá-lo-ei,
individualmente no futuro.
No entanto, irei enumerar-vos e
dizer algumas palavras que são importantes:
À Rafaela, Margarida, Paulo,
Germano, Vanessa, Leonor, André, João, Filipe, Francisco, Beatriz e Carina.
Obrigado por serem quem são e
como são. São especiais e vocês já o sabem. Uns mais introvertidos e outros com
“pilhas” intermináveis fizeram o sentido desta viagem, deram valor ao que é ser
especial. Poderia já conhecer alguns do IPO mas acreditem, morar no mesmo local
e passar 24h com vocês permite-nos ir mais além e dar sentido, em 4 dias, ao
que é gerar “ser uma família”. Como disse ao Germano na despedida peço-vos a todos
os outros: Lutem sempre pelos vossos sonhos e não deixem, NUNCA, que vos digam
que não são capazes de algo. Vocês já passaram mais do que muitos idosos e
adultos tiveram de passar e acreditem, serão o que quiserem ser, desde que
acreditem na magia e no poder que têm!
À Francisca, Margarida e Manuel.
Companheiros de viagem e guias
pertencentes a esta dream team, quero agradecer-vos cada pedaço de apoio, cada
ajuda e a ti, Francisca principalmente, porque sem ti nunca nada disto teria
sido conseguido. Foste um dos pilares e mostras-te ter uma capacidade
organizacional e relacional extraordinária. A todos vocês muito obrigado!
À Madalena e a Terra dos Sonhos.
Obrigado por me terem permitido
embarcar nesta jornada única e me terem permitido cumprir o sonho a estas
crianças e a mim. Estarei eternamente grato.
A todos os patrocinadores e
organizadores da viagem
A todos vocês, cujos nomes não me
foi possível memorizar, não terei palavras suficientes para agradecer. Vocês são
pessoas com um valor excepcional, que permitiram mostrar que no mundo existem
pessoas boas, capazes de mover mundos e fundos para pôr, quem mais precisa, com
um sorriso na cara e com uma felicidade fundida à alma. Ensinaram-nos que,
gerar felicidade nos outros leva a que o mundo seja um pouco melhor e menos
egoísta. São pessoas a quem estarei eu, e todos os que embarcaram nesta
jornada, eternamente gratos!
Aos pais.
A vocês, que têm estes filhos
maravilhosos e que são, tal como eles, uns heróis, só vos quero agradecer uma
vez mais. Imagino o receio e as dúvidas que tiveram antes de autorizarem esta
viagem para eles mas agradeço-vos, do fundo do coração, terem-no feito. Graças a
vocês permitiram que eles pudessem mostrar a eles próprios e ao mundo, do que
são feitos, que tenham a idade que tenham, são excepcionais! Obrigado pela
oportunidade que lhes deram e parabéns pelos pais que são porque isso
reflete-se na bondade, carinho, educação, determinação e cooperação que eles
mostraram ter.
Termino tudo isto agradecendo à
minha professora da escola primária, Margarida S., que me ensinou a contar
porque nunca, até esta semana, fizera tanto sentido saber contar tão bem até
16. Foi algo que nunca tinha feito tantas vezes. Também a ela o meu muito
obrigado.
O Enfermeiro Mário