Este diário (suposto) tornou-se num semanário sem que desse conta. Saímos do porto da vida que tínhamos para um mar desconhecido, cheio de perigos e inseguranças numa bela – a mais bela de que me recordo – sexta feira 13. Saímos com certeza que o queríamos fazer e nesta viagem há tanto planeada, mas sem data prévia de inicio, (quase tudo era desconhecido). Planos e previsões são impossíveis de fazer quando “as condições meteorológicas” são determinadas pelo teu humor, meu amor.
E é por esta imprevisibilidade diária, entre “tempestades”, ondas gigantes de adrenalina com risos, gargalhadas e choro, saltos e sestas, que aquilo que pretendia ser um diário de bordo, foi alterado para um semanário. Aproveito um momento de mar flat para o escrever, quando o meu cabelo e especto geral se assemelham a alguém que andou na pesca em alto mar. Mas é agora, neste navio, que pretendo estar para sempre, contigo. Connosco.
Quero que um dia possas ler este texto, perceberes que esta tua primeira semana em casa foi caótica por ter sido tudo atípico, associado aos teus já 2 anos de história e aos meus 32 de vida que em pouco ou nada nos prepara para o que isto será. Aprenderemos juntos, os três a ser cada vez melhores e nós estaremos aqui para te dar em dose pura, aquilo que só tinhas conseguido em forma diluída: Muito AMOR.
Sei que eras muito feliz, sei que extraordinariamente bem tratado e sei que te amavam e amam muito mas faltava-te algo que, desde que te vi a primeira vez, sabia que te podia e quereria dar: uma família. Pensámos, refletimos, discutimos e debruçamo-nos nos prós e contras da nossa futura decisão mas era inevitável. Tu sempre foste o meu filho, o nosso filho, só que ainda não sabíamos. Nem tu, nem eu, até aquele dia em que nos cruzámos.
Não te vi nascer, não te troquei a primeira fralda, nem sequer te dei o primeiro biberão ou vi o primeiro sorriso ou choro. E sei que são coisas que habitualmente os pais guardam e desejam. Não sou diferente mas assumo que sinto tê-lo feito de outras formas nos últimos meses. Vi-te dormir se mão dada a mim, vi-te comer da colher e garfo que eu segurava e fui vendo como conseguias aprender a comer sozinho, vi-te deixar de andar e o recomeço dessa etapa essencial do teu desenvolvimento, vi-te afastar-me por não me conheceres e hoje vejo-te a correr para mim de braços abertos. Vi-te emitir sons incompreensíveis e palavras e gestos indecifráveis e hoje vejo-te enquanto me tentas (mas não consegues) gastar-me o nome “pai” e tantas outras coisas maravilhosas que saem dessa tua linda boca.
O mundo lá fora exige-nos estar aqui, em casa fechados, sem pudermos sair e quente leve de novo ao parque, ou que conheças o zoo, o oceanário, os jardins, arvores e o resto do mundo que gostaria de ter oportunidade de levar, mas temo-nos a nós meu filho. Temos o nosso espaço que embora já o saibamos de cor, é o que nos dá abrigo e segurança e um dia, assim que lá fora o mundo nos permita respirar o ar e, simplesmente viver, prometo fazer-te ainda mais feliz e que o mundo perceba que o teu sorriso incomparável e o brilho dos teus olhos, capaz de iluminar qualquer escuridão, é essencial para os teus pais e para que o mundo se reerga da tristeza e solidão em que afundou.
Esta primeira semana em casa foi difícil. Muito difícil meu amor mas nunca penses que foi ou é por tua causa. Foi e é porque, tal como qualquer nascimento na vida de um pai, nunca se está preparado totalmente para o que é preciso dar resposta, nem que se tente antecipar ou preparar tudo ao mais ínfimo pormenor. Mas isso é o encanto da paternidade. E tu meu filho és o melhor filho e tens feito o teu melhor por nós, mesmo sem saberes! Comes e dormes bem, amas-nos e dás-nos tanto carinho e até as tuas birras, apesar de intensas, são “sol de pouca dura” e, quando “atiradas para a sanita”, vão com a água e fica tudo bem. Isso, meu bem, é do melhor que um pai pode pensar ter. A semana ter sido difícil prende-se com as coisas dos pais, dos adultos. Tanta coisa para preparar, a casa para gerir, papéis para tratar remotamente, outros pessoalmente e o stress do mundo lá fora, que entra e se entranha em nós assim que tocámos no ar da rua. Associado às preocupações de pais, que amam, que te amam, a ver se estás bem, se estás a respirar bem quando dormes, se nãos ficas com frio ou calor, que não acordes e chames e não te ouvimos por estarmos cansados, o ter de ralhar contigo quando fazes asneiras, etc. Tudo isto nos leva a energia mas sabes que mais? Faríamos tudo de novo.
Hoje, no primeiro dia do pai passado contigo, só quero dizer-te, de coração, que foste o melhor que me aconteceu na vida, que acredita que já és o meu maior tesouro e que, no que depender de mim, te farei muito feliz e te darei, enquanto a vida me permitir, todo o amor, valores e aprendizagens que conseguir, de forma a que, tal como sempre fizeste com quem se cruzou na tua vida, tornes o mundo muito melhor. A tua luz, o teu ser veio ao mundo para alegrar e iluminar portanto não duvides do quão especial que és e dia 13 de Março meu amor, foi o primeiro dia do resto das nossas vidas.
Que comece a semana 2 ❤
